Teste real: Quantos km cada scooter aguenta na vida real?

Ao pesquisar por uma scooter elétrica, um dos primeiros números que chamam a atenção é a autonomia declarada pelo fabricante, aquela promessa tentadora de “até 60 km com uma única carga”. No entanto, quem já pilotou uma scooter sabe que esses números nem sempre refletem a realidade das ruas. Subidas, paradas frequentes, vento contra, peso do piloto e até o tipo de solo influenciam diretamente no quanto a scooter realmente roda antes de precisar recarregar.

É aí que entram os testes práticos, realizados em condições reais de uso urbano. Eles são essenciais para quem quer tomar uma decisão de compra mais consciente e alinhada ao seu dia a dia. Afinal, não adianta ter uma scooter “de 60 km de alcance” se no seu trajeto ela não passa de 35 km.

Neste artigo, vamos apresentar os resultados de testes com diferentes modelos de scooters elétricas, rodando por ruas de verdade, enfrentando trânsito, calçadas irregulares, semáforos e ladeiras. A ideia é simples: mostrar quantos quilômetros cada scooter aguenta na vida real, e ajudar você a escolher o modelo certo para o seu estilo de uso.

Como funciona o teste de autonomia real

Para avaliar a autonomia real de diferentes scooters elétricas, criamos um teste padronizado que simula o uso diário em um ambiente urbano típico. O objetivo é fornecer dados comparáveis e relevantes para quem realmente usa a scooter no dia a dia — e não em laboratório.

Parâmetros do teste:

  • Peso do piloto: 75 kg, valor médio representativo do usuário adulto comum.
  • Tipo de trajeto: percurso misto com trechos de asfalto liso, paralelepípedos, algumas subidas leves e trânsito urbano moderado.
  • Condições climáticas: tempo seco, temperatura entre 22°C e 27°C.
  • Modo de condução: sempre no modo padrão ou econômico (quando disponível), com aceleração suave e velocidade média entre 20 e 25 km/h.

Por que esses parâmetros são importantes? 

Eles garantem que todos os modelos testados enfrentem o mesmo desafio, eliminando variáveis externas que poderiam influenciar o desempenho de forma injusta. Assim, conseguimos comparar scooters de diferentes categorias com um grau de precisão mais próximo do uso real.

Fatores que afetam os resultados:

  • Subidas e ladeiras: aumentam significativamente o consumo de energia.
  • Paradas frequentes (semáforos e trânsito): exigem retomadas constantes, que também drenam mais bateria.
  • Vento contra e temperatura: podem impactar o desempenho do motor e a eficiência da bateria.
  • Estado dos pneus e calibragem: afetam o rolamento e o esforço exigido do motor.

Com esse método, conseguimos medir quantos quilômetros cada scooter roda de fato até a bateria zerar, sempre em condições próximas do uso urbano cotidiano. 

Modelos testados e suas especificações

Para oferecer uma visão clara sobre o desempenho real de diferentes scooters elétricas, selecionamos modelos populares no mercado brasileiro com propostas variadas, desde scooters compactas para o uso urbano leve até modelos mais robustos, voltados para trajetos mais longos e terrenos mistos.

Abaixo, apresentamos a lista dos modelos avaliados e um resumo das principais especificações técnicas de cada um:

Xiaomi Mi Electric Scooter Pro 2

  • Potência do motor: 300W (pico de 600W)
  • Capacidade da bateria: 446 Wh
  • Autonomia declarada: até 45 km
  • Tipo de pneu: inflável de 8,5”
  • Peso aproximado: 14,2 kg

Segway Ninebot MAX G30

  • Potência do motor: 350W (pico de 700W)
  • Capacidade da bateria: 551 Wh
  • Autonomia declarada: até 65 km
  • Tipo de pneu: inflável de 10” com camada de gel antifuro
  • Peso aproximado: 18,7 kg

Voltz EV1 Sport

  • Potência do motor: 1800W
  • Capacidade da bateria: 1.620 Wh (bateria removível de lítio)
  • Autonomia declarada: até 100 km (modo econômico)
  • Tipo de pneu: aro 12” misto
  • Peso aproximado: 93 kg (sem carga)

Motus i9 Plus

  • Potência do motor: 500W
  • Capacidade da bateria: 624 Wh
  • Autonomia declarada: até 50 km
  • Tipo de pneu: inflável de 10”
  • Peso aproximado: 16 kg

Foston FS-E9

  • Potência do motor: 350W
  • Capacidade da bateria: 480 Wh
  • Autonomia declarada: até 40 km
  • Tipo de pneu: sólido de 8,5”
  • Peso aproximado: 15 kg

Esses modelos foram escolhidos por oferecerem boa representatividade entre scooters urbanas de entrada, intermediárias e modelos mais parrudos voltados ao uso misto.

Resultados dos testes de autonomia na prática

Após realizar os testes em condições urbanas reais, com trechos planos e inclinados, paradas em semáforos e variações de velocidade, obtivemos os seguintes resultados. O piloto utilizado no teste tem 75 kg, o trajeto total incluiu 70% de asfalto e 30% de paralelepípedos, com clima ameno (24°C) e pneus calibrados.

Tabela Comparativa: Autonomia Real vs. Declarada

ModeloAutonomia DeclaradaAutonomia Real (Teste)Diferença
Xiaomi Mi Pro 245 km34 km-11 km (-24%)
Segway Ninebot MAX G3065 km52 km-13 km (-20%)
Voltz EV1 Sport100 km (modo econômico)83 km-17 km (-17%)
Motus i9 Plus50 km38 km-12 km (-24%)
Foston FS-E940 km28 km-12 km (-30%)

Comentários por modelo

  • Xiaomi Mi Pro 2: Ideal para deslocamentos urbanos leves. Apesar da perda de alcance em relação ao prometido, entrega boa eficiência energética, com rodagem suave e confortável.
  • Segway Ninebot MAX G30: Excelente equilíbrio entre autonomia, potência e estabilidade. A perda de 13 km é aceitável considerando a qualidade da rodagem, conforto e frenagem regenerativa.
  • Voltz EV1 Sport: Apesar de ser um modelo mais robusto e com maior peso, se saiu muito bem no teste. A autonomia real superou expectativas para um modelo com motor potente e ótimo desempenho em subidas.
  • Motus i9 Plus: Boa performance geral, mas sensível a subidas e peso adicional. Indicado para uso urbano plano, com destaque para a dirigibilidade.
  • Foston FS-E9: Scooter de entrada com bom custo-benefício, mas menor autonomia real. Ideal para trajetos curtos e terrenos predominantemente planos. O pneu sólido aumenta a resistência, mas compromete um pouco o conforto.

Os testes confirmam que a autonomia real pode variar bastante, mesmo entre scooters com especificações similares. Essa diferença se deve a diversos fatores como estilo de pilotagem, relevo urbano e peso do usuário. Ainda assim, modelos como o Ninebot MAX G30 e o Voltz EV1 Sport se destacaram por manter uma autonomia acima da média, sem abrir mão de conforto e estabilidade

Principais Surpresas (Positivas e Negativas)

Ao longo dos testes de autonomia real, alguns modelos se destacaram positivamente, entregando mais do que prometiam no papel, enquanto outros ficaram aquém das expectativas, mesmo com especificações técnicas atraentes. Abaixo, destacamos as principais surpresas dessa avaliação prática.

Surpresas positivas: quem foi além do prometido

Voltz EV1 Sport
Apesar de ser uma scooter mais robusta, com motor potente e voltada para uso misto, o modelo conseguiu manter uma autonomia real bastante próxima do declarado (83 km vs. 100 km). Considerando o peso do conjunto e o terreno urbano variado, o desempenho foi excelente. A presença de uma bateria de alta capacidade e um bom sistema de gerenciamento (BMS) ajudam a explicar o bom resultado.

Segway Ninebot MAX G30
Já conhecido por sua confiabilidade, o Ninebot confirmou a fama e teve uma das menores diferenças entre a autonomia teórica e a real. Além disso, apresentou um comportamento exemplar em subidas leves e paradas frequentes. A frenagem regenerativa e os pneus infláveis de alta qualidade contribuíram para a eficiência energética.

Decepções: abaixo do esperado

Foston FS-E9
Com uma promessa de até 40 km de autonomia, o modelo entregou apenas 28 km em uso real. O resultado decepcionou, especialmente considerando que o teste foi feito em modo padrão e sem sobrepeso. A provável causa está no uso de pneus sólidos (maior atrito), menor eficiência do motor e uma bateria de qualidade mais simples.

Motus i9 Plus
Embora tenha boa reputação no mercado de entrada, o modelo também apresentou uma perda significativa em relação ao prometido. O motor parece sofrer em terrenos com variações de inclinação e a ausência de suspensão mais robusta pode contribuir para maior consumo em pisos irregulares.

Possíveis explicações para os resultados

  • Qualidade da bateria: Nem todas as baterias têm o mesmo rendimento, mesmo que a capacidade seja parecida. Marcas renomadas como LG, Samsung ou Panasonic geralmente garantem melhor eficiência.
  • Sistema de gerenciamento eletrônico: Modelos com um BMS mais inteligente conseguem otimizar melhor o uso da carga, especialmente em situações de frenagem ou descidas.
  • Pneus e calibragem: Pneus infláveis bem calibrados tendem a oferecer menos resistência ao rolamento do que pneus sólidos, o que impacta diretamente na autonomia.
  • Peso e construção: Estruturas mais pesadas ou menos aerodinâmicas exigem mais energia para manter a velocidade, mesmo em terrenos planos.

Nem sempre o modelo com maior autonomia no papel entrega o melhor desempenho na prática. Por isso, é fundamental observar não apenas os números, mas também a tecnologia embarcada, a qualidade da construção e, claro, os testes reais como esse.

Considerações: autonomia real x perfil do usuário

A autonomia real de uma scooter elétrica não é apenas um número fixo, ela varia de acordo com fatores como o peso do piloto, tipo de trajeto, estilo de condução e até as condições climáticas. Por isso, mais do que confiar apenas na autonomia declarada pelo fabricante, é essencial entender qual modelo se encaixa melhor no seu perfil e nas suas necessidades diárias.

Qual Scooter Combina com Seu Estilo de Uso?

  • Para trajetos longos e regulares:
    Modelos com baterias de maior capacidade, preferencialmente acima de 600Wh, são mais indicados. Também vale buscar scooters com modos de economia de energia, motores eficientes e espaço para uma segunda bateria. Ideal para quem trabalha longe de casa ou realiza entregas.
  • Para deslocamentos urbanos curtos:
    Se seu trajeto diário não ultrapassa 10 km, uma scooter compacta com autonomia real de 20–30 km pode ser suficiente. Neste caso, foco em agilidade, leveza e tempo de recarga rápido faz mais diferença do que uma grande bateria.
  • Para uso misto (urbano + lazer):
    Vale investir em um modelo versátil, com bom equilíbrio entre potência e autonomia. Pneus híbridos, suspensão confortável e autonomia real de pelo menos 40 km tornam a experiência mais segura e divertida em diferentes tipos de terreno.

Avalie a Autonomia com Base na Sua Rotina

A melhor scooter não é necessariamente a que roda mais quilômetros, mas a que atende bem ao seu dia a dia sem causar ansiedade com a carga. Faça uma estimativa do seu percurso diário, considerando ida e volta, e inclua uma margem de segurança de pelo menos 20%

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *